segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"PODERIA TER SIDO COM O SEU FILHO!"- a tragédia de S. Caetano


Uma  oportunidade  para  reflexão  sobre  a  ciberdependência
                                                                            *Por Cláudio Silva
O que pode levar uma criança de 10 anos a atentar contra a vida de sua professora, e em seguida tirar a própria vida? Quais as verdadeiras causas? Perguntas que dificilmente serão totalmente esclarecidas. Principalmente, porque não foram encontrados motivos graves que “justificassem” o ato. Pelo que foi noticiado, era um garoto equilibrado, oriundo de lar estruturado, socialmente bem relacionado, cantava na igreja, e na escola tinha comportamento exemplar. Provavelmente, não se diferencie do perfil de filhos de muitos dos que neste momento leem esta crônica. Daí a grande preocupação. Se aconteceu com ele...

Como prevenir? Exatamente pela exiguidade de informações consistentes, preferimos não nos aprofundar no fato específico, mas a partir dele, provocar a reflexão sobre uma dentre tantas possibilidades. A de que a causa, poderia, por exemplo, estar relacionada com a ciberdependência, ou vício do computador. Um fenômeno crescente, com o qual, pais e educadores ainda não sabem exatamente como lidar.

Hoje, cada vez mais, muitas pessoas, dentre elas, e eu diria, sobretudo, crianças e jovens, vivem como que num mundo paralelo. O dos games e dos relacionamentos virtuais. Perdem a noção do tempo, passando horas, e mesmo varando noites, imersos em uma “outra realidade”. Num outro “mundo”, no qual eles desenvolvem como que outras personalidades. A mídia tem apresentado com relativa frequência casos de pessoas que na vida real são tímidas e recatadas, e que buscam através da virtualidade conquistar os relacionamentos desejados, expondo-se aos perigos que este tipo de expediente apresenta. Pelo que se depreende, ali se mostram soltos, desinibidos e até ousados. Uma das novelas de TV do momento tem apresentado um personagem com essas características. E no aspecto da violência, alguns , ao que parece, chegam a assumir a “personalidade” de personagens de games, que em certos casos são criados com características de fortes , corajosos e por vezes vingativos e assassinos.

E, pergunta-se, não seria possível, em algum momento haver confusão mental, na perigosa confluência das duas “realidades”? Trazendo para a vida real, as personalidades vivenciadas no mundo virtual?  Com a palavra os psicólogos e psiquiatras. A nós, outros, cabe chamar a atenção para o perigo.

Porque vários fatos parecidos com o de São Caetano já ocorreram em passado recente, gerando tragédias e comoção.  Relembramos três casos, pelas repercussões à época. O primeiro, talvez umas das referências mais impactantes, ficou conhecido como O massacre de Columbine. Aconteceu em 1999, em uma prestigiosa escola de ensino médio dos Estados Unidos. Dois estudantes, de 18 e 17 anos, atiraram em vários colegas e professores, deixando um saldo de 13 mortos e 21 feridos. No mesmo ano, aqui no Brasil, em São Paulo, um estudante de Medicina, de 24 anos, descarregou um pente de submetralhadora na plateia de um cinema, matando três pessoas e ferindo outras cinco. Em 2007, novo massacre, dessa vez na Universidade Estadual da Virgínia, em que um estudante de 23 anos, mata 32 pessoas e deixa mais quinze feridas, suicidando-se a seguir.  Os três casos, pelo que foi noticiado, guardavam em comum, dentre outros fatores, uma intensa convivência dos seus autores com o mundo “virtual”. Indo de relacionamentos suspeitos e vício em games violentos, a frequência a sites de comunidades que pregam o ódio e a violência.

A interatividade, característica dos games, induz à sensação de penetrar na realidade virtual. A esse respeito é oportuno para reflexão o trecho referenciado a seguir:
“[...] a trama ultraviolenta dos jogos, que excitava o psiquismo dos jovens a tal ponto que gerava uma massa de ciberdependentes. A ciberdependência produzia sintomas semelhantes aos da dependência psicológica da cocaína: atração irresistível, ansiedade, intolerância à frustração, impulsividade, além de insônia e humor depressivo na ausência da substância. Muitos usuários ficavam tão fissurados nos jogos que varavam as madrugadas ligadas ao aparelho, frequentemente escondidos dos pais. Em um dos games, o que mais atraía a juventude, o perdedor era assassinado ou se suicidava virtualmente. Eram jogos perigosíssimos, que atentavam contra a consciência crítica e reproduziam as loucuras de ditadores. Hitler, no auge do poder, protagonizou uma indústria de assassinatos e, no calabouço da derrota, matou seus filhos e suicidou-se. [...] as consequências do vício nesses jogos não poderiam ser piores: zero de resiliência, ou a capacidade de suportar contrariedades; zero de capacidade de expor, em vez de impor as ideias; zero de habilidade de pensar em outras possibilidades.”

Quanto tempo por dia o seu filho fica conectado no mundo virtual? Hoje já não dá mais para usar a expressão “fica diante do computador”, porque agora ele nos acompanha através do próprio celular. Proporcionalmente, seu filho passa mais tempo no “mundo real” ou no “mundo virtual”?  Se no mundo virtual, o que vê? Com quem se relaciona? E se no mundo real, qual está sendo a qualidade desse tempo vivido? Aos pais e educadores, cabe, além do acompanhamento e orientação sobre comportamentos saudáveis, o trabalho permanente para conferir qualidade aos momentos de convivência, sobretudo em família e na escola. Recordava o velho sábio: “Se o espírito não é alimentado com coisas edificantes, poderá sê-lo com o que envenena a mente e a alma!”.

Pense nisso!

Se achou que esta crônica pode ser útil para a edificação das pessoas compartilhe em suas redes sociais, e estará nos ajudando em nossa missão de educador. Igualmente, poste o seu comentário abaixo pois a sua opinião é muito importante para nós - Os  editores.

*Cláudio Silva é mestre em Educação, ex- presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação-UNDIME/PR, foi Secretário de Educação de Apucarana-PR (gestões  2005-2008 e  2009-2012 ) e  Secretário  de  Ensino  Superior ( 2012)

Ficha Técnica:
Estrutura: Jornalista Cláudia Alenkire Gonçalves da Silva 
Revisão: Prof.ª Doutoranda Leila Cleuri Pryjma


Link’s recomendados:







26 comentários:

Prof. Cláudio Silva disse...

Da Wania:

Mestre!!! Bárbaro!!!
Podeorosa mensagem!!!
Também não tenho conseguido postar meus comentários....
Abraços!!!
Wania

Michela Fortes Abdala disse...

Muitas vezes não sabemos o motivo que provoca uma ação espantosa acontecer, mas cada um possue sentimentos que algumas vezes a sociedade viola, que magoa, que exclui, que humilha e principalmente que nos revolta interiormente, muitas buscar o motivo não é a solução, mas cuidar do emocional e preparar estas criança para o futuro de uma sociedade cruel, que lidam com as pessoas como se fossem objetos, onde um desconta no outro sua ira, mesmo que este não tenha nada haver, vivemos e cultivamos a crueldade, e não ao contrário, com alegria, solidariedade, cooperativismo, com trabalho em equipe, com momentos dignos e esperançosos.
Um grande abraço Professor, e como sempre escrevendo magnificamente.

Prof. Cláudio Silva disse...

Muito pertinente o seu comentário Michela. Um abraço.

Rosemar Lima Silva disse...

Nossa sociedade está muito permissiva, não se pode dizer não para um filho pois ele pode ficar traumatizado. Então supõe-se que ele possa tudo ficar horas a fio em computador,ter acesso a jogos que são proibidos para sua idade. Estamos na era que o filho domina os pais independente de ser famílai estruturada ou não. Quando vemos atitudes tão descabidas como essas nos assustamos mas o que estamos fazendo para mudar isso? Acredito que nada pois cada vez mais deixamos pessoas estranhas educar nossos filhos, mesmo sabendo que é errado.
Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

É realmente preocupante Profa Rosemar. Daí a importância de qualificarmos os momentos de convívio com os filhos. Muito agradecido pela honra do acesso ao blog e pela postagem dos seu comentário.

Variedades disse...

Como definir uma situação dessa infelizmente deparamos com casos bem complicados no dia a dia por mais que tentamos dar o suporte necessário acredito que a base está lá na família.O mundo virtual vem tomando uma proporção assustadora cabe aos pais orientá-los.Procuro fazer a minha parte.Abraços professor.

Prof. Cláudio Silva disse...

Se cada um fizer a sua parte, uma revolução estará em curso.Parabéns Profa. Um abraço

Lu Garute disse...

Esse e outros fatos semelhantes muitas vezes nos paralisam. Chegamos muitas vezes a pensar que não tem mais jeito, o mundo está perdido.Porém, devemos tomar esses acontecimentos como base para o nosso fortalecimento enquanto educadores,descobrir o que precisa mudar, como mudar e partir pra ação.Como educadores nossa missão é árdua e não podemos nos deixar abater.Sejamos realmente educadores, os nossas crianças, adolescentes e jovens andam muito carentes e muitas vezes a única atenção e carinho que recebem é na escola. Será que estamos preparados para esse novo olhar que a Educação tem exigido?

Prof. Cláudio Silva disse...

Profa Lu,são idealistas como você que fazem a educação avançar e cumprir o seu papel. Ler seu comentário no Dia dos Professores, é um grande incentivo. parabéns! Um abraço

@rogromano disse...

Prof. parabêns pelo blog, quem dera saber dele antes.
Sobre esse assunto Prof. eu resumo em duas situações: 1 - Educação, sem ela faltada na criação dessa criança, podendo ser seguido de exemplos infelizes dentre eles a possivel falta de Amor na familia, e ai vai...
2 - A Ciência, a Genética algo que frisa o inesperado dada essas ações violentas e sem traços de origem as vezes, assim como não acreditam muitos que os homosexuais são de formação genética sem terem exemplos passado na familia...
Será ?!

@rogromano disse...

Prof. Parabêns pelo seu Blog e suas palavras, tenho em meus amigos e familia muitos Prof. e vejo total desânimo em todos, haja visto o MEDIOCRE salario, as ameaças e algumas das vezes a concretização delas, a falta de estrutura para ensinar, como a falta de respeito, em Resumo junto com as maravilhosas palavras da Sra. Profª Lu Garute defino em SIMPLESMENTE a falta total da que hoje é posta como VIRTUDE a tal da EDUCAÇÃO....

Anônimo disse...

Fantástico Professor Cláudio,
Suas postagens são muito bem feitas...parabéns.
Vou clocar um link direto no meu blog (http://edudoroteu.blogspot.com) do seu para ajudar a divulgá-lo. Coisas com esta qualidade tem que ficar mais conhecidas. Tenho em meu banco de dados mais de 30 mil pessoas. Coloquei uma nova postagem no ar hoje: "A mágoa adoece, o Perdão Cura!
Um abraço, sucesso e sorte,
edudodoteu@gmail.com

Um grande abraço.

Prof. Cláudio Silva disse...

Meu caro @rogromano , recebemos com satisfação sua postagem . E agradecemos pelos comentários. A missão do educador só se efetiva com um boa dose de idealismo e amor. A luta pelo reconhecimento social e valorização da categoria são bandeiras permanentes. Não há sociedade que se emancipe sem o educador. Um grande abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

Olá Duda, é uma grande satisfação abrir esse canal de interatividade com o amigo.Queremos aprender muito com a sua experiência e conhecimentos. Retribuo os cumprimentos pela sensibilidade e profundidade de suas reflexões. Um abraço

Mandagua - Apucarana - PR disse...

Meu Caro Mestre e Amigo Claudio Silva, Muito bom o seu texto, ele está inserido na Lei de Causa e Efeito. Não tem como fugir disso.Como já dizia Gandhy: "A vida é como um espelho: se vc. sorri para o espelho, ele sorri de volta". A atitude que eu tomar perante o mundo virtual será a nesma que vou tomar na vida real. Um abraço. Parabéns pela justa preocupação com este mundo da ciperdependencia. Como dizia Frei Beto num artigo: "é preciso passar do mundo virtual para um mundo espiritual".

Prof. Cláudio Silva disse...

Grande Mandagua,grato pela honra da visita e mais ainda da postagem. Muito profunda a sua análise, inspirada no grande Gandhy. Há momentos em que a sociedade deve observar mais atentamente os sinais de alerta sobre novas realidades que preocupam. Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

De Ivone Gonçalves (Psicóloga)

Professor Cláudio, parabéns pelo assunto abordado nesse artigo. Um tema que mexe com todos nós que temos o desafio de entender o funcionamento da mente humana _ se é que isso é possível. O que vemos, na maioria das vezes, são hipóteses que procuram justificar os comportamentos, sem pretensão de desvendar suas reais causas... limitados às aparências e aos sintomas. Parabéns! Temos que acreditar, sim, que por detrás de todo comportamento expresso (verbal) existe um comportamento não revelado/encoberto (não verbal).(Behaviorismo) ... e Todos os nossos atos são _em alguma medida_ desejados e bem sucedidos. A Teoria Psicanalítica é complexa, mas procura explicar muitas das atitudes humanas reveladas através de comportamentos como, por exemplo, quando nos boicotamos no trabalho ou em relacionamentos... o que ganhamos? Em muitas situações em que somos aparentemente prejudicados, porém há uma realização do desejo do nosso inconsciente. Difícil de explicar, mas Freud tentou. Um abraço Professor e ... continuemos a buscar explicações acerca de tudo o que nos cerca.

Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

Dra Ivone, grato pela sua contribuição às reflexões sobre o tema. Um abraço

Prof. Cláudio Silva disse...

Do Monsenhor Roberto Carrara

Caro Prof. Claudio, gostei. Sua reflexão é bastante atinente. E, além do mais, você escreve muito bem. Cumprimentos.

Prof. Cláudio Silva disse...

Caro Monsenhor, agradeço pela honra de seu acesso ao blog. Suas palavras são motivo de grande incentivo. Um abraço

anabritival disse...

Prof. Cláudio, muitas vezes fico atônita diante de acontecimentos que nos chocam e, ao mesmo tempo,nos fazem refletir acerca das causas que provavelmente podem provocar tais situações tão desastrosas. Muitas podem ser as hipóteses, inclusive essa que tão sabiamente apresentou, pois a educação de nossas crianças nem sempre está sendo bem conduzida, falta muito amor ou a forma de mostrar esse amor é equivocada, até mesmo as famílias têm um novo perfil e assim vai. Adorei seu posicionamento. Um abraço.

Prof. Cláudio Silva disse...

Minha eterna professora Ana, a sra é um pouco responsável pela minha vocação para a escrita. Grato pela honra da postagem. Um grande abraço, extensivo à toda essa maravilhosa família que muito estimamos.

DAYAN P CALLIGHER disse...

Diversidades Culturais X Intolerância
Religiosidade Fanática X Ciência

São paradigmas que gostaria de abordar em meu leigo comentário, somente quando acima de tudo pregarmos o respeito ao ser humano, independente da classe social ou mesmo cultura religiosa, dentre outros itens, este sociedade hipócrita poderá ter chances de avanço real.
No entanto temos EUA posando de Roma, pregando a paz sobre seu comando e você me diz que neste mundo globalizando com acesso a informação de modo instantâneo temos falado a verdade.
Praticado boas ações, senhores respeitem a inteligência desta nova geração! Convenhamos qualquer dia destes não me admiro em receber a noticia que outro Bin Laden nasceu no Brasil.

Prof. Cláudio Silva disse...

De D. Celso Antonio Marchiori ( Bispo Diocesano de Apucarana (Pr))

Obrigado pelos seus emails.

A Palavra de Deus permaneça em seu coração;

que o Espírito Santo o torne sempre mais capacitado para testemunhar e para anunciar o Evangelho, manancial de comunhão e de amor.

Com estes sentimentos, que confio à intercessão de Maria Santíssima, concedo-lhe de coração uma especial Bênção Apostólica.



+Dom Celso A. Marchiori

Prof. Cláudio Silva disse...

Muito obrigado D. Celso.

Professora Fabíola disse...

Olá Prof. Cláudio! Excelentes palavras que nos fazem refletir. Acredito que seja tão cômodo para os pais deixarem seus filhos horas e horas à frente de um computador, assim não precisam vigiá-los, pois sabem exatamente onde estão (apesar de ser através dessa tecnologia que podem estar em tantos lugares ao mesmo tempo). Seria ótimo se em todas as famílias existisse o diálogo, as orações, atividades que pudessem ser feitas em conjunto, assim não haveria a separação dentro de uma casa que se diz unida enquanto cada um está ocupado em seu computador. Obrigada pela oportunidade de compartilhar dessa crônica. Um abraço!